Retrocesso, evolução e desafios das profissionais gráficas em 2016
Apesar do mundo ter mudado rápido e radicalmente frente às inovações tecnológicas nos últimos 30 anos, alterando até o mundo do trabalho e a forma como as pessoas se relacionam entre si com a revolução digital, o preconceito de gênero e suas implicações na vida pessoal e profissional ainda se perpetuam. Um exemplo pode ser bem observado na indústria gráfica de Pernambuco e do Brasil. Embora ocupem hoje cerca de 30% dos empregos do setor no país, algo em torno de 80 mil trabalhadoras, as profissionais gráficas convivem com injustiças sistemáticas no ramo.
A mão de obra feminina continua centrada no setor de Acabamento em detrimento a outras áreas, como Impressão ou chefias. E a razão não é tão obvia como se convencionou ao dizer que o acabamento exige mais sensibilidade, delicadeza e menor força física. Lembrem-se da revolução tecnológica. Ela também chegou nas gráficas. Hoje as máquinas para impressão e outros fins exigem menor esforço físico e maior qualidade técnica do que no setor de Acabamento, onde, contraditoriamente, exige até superior esforço braçal e artesanal. Limitar, portanto, a evolução de mulheres noutras áreas nas gráficas, que têm remunerações e poderes maiores, ocorre devido ao preconceito e discriminação de gênero, o que realça o ainda atraso cultural da sociedade que insiste no machismo.
Além disso, tal cultura atrasada aliada à herança escravagista promove violências contra todos os trabalhadores dentro das gráficas, sendo que com sequelas ainda maiores nas mulheres. Com bastante frequência, as trabalhadoras sofrem assédios moral e sexual, lidam com as diferenças salariais comparadas aos homens e acumulam mais doenças laborais.
Diante da conjuntura, vale salientar que só a unidade das trabalhadoras junto ao sindicato da categoria (Sindgraf-PE), que há três anos refundou o Comitê Feminino, pode ser o meio capaz de enfrentar e de transformar esta absurda e arcaica cultura da sociedade com efeitos nas gráficas.
A sociedade, inclusive, parece que está em crise. Vive um triste período de autoritarismo, ódio e preconceitos. Não à toa, o Congresso Nacional é um dos mais conservadores da história, com projetos contra direitos trabalhistas (terceirização do trabalho e etc) e contra mulheres (restrição de atendimento a vítimas de violência sexual e outras mais aberrações).
Sozinha e isolada ninguém é capaz de nada. As trabalhadoras gráficas precisam se juntar ao sindicato – único órgão que as defende. “Desde a volta do Comitê Feminino muita coisa tem mudado em nosso favor”, diz Lidiane Araújo, vice-presidente do Sindgraf e coordenadora do Comitê. Encontros, ações sindicais nas empresas e representações nos órgãos públicos têm sido realizado em defesa da empregada gráfica. Não fique sozinha, junte-se ao Sindgraf para se proteger e avançar nos direitos em busca da justa valorização e evolução profissional dentro da categoria.
O trabalho tem sido reconhecido pelas trabalhadoras. Tanto é que mais profissionais têm denunciado irregularidades das empresas no Sindgraf. Elas também precisam se sindicalizar. O sindicato também é o lugar de mulher. “Teremos até mais mulheres sindicalistas à frente do sindicato”, comemora Lidiane. A nova gestão do Sindgraf contará com as gráficas Lidiane Araújo (Diário de PE), Elaine de Azevedo (Multimarcas), Maria Gorete (Imprima Soluções) e Isabelita Bento (MXM). Venha e participe!